Vivemos numa época em que o "eu" muitas vezes ofusca o "nós". É nesse cenário que o treinamento de valores se destaca como uma ferramenta essencial para manter o equilíbrio emocional e fortalecer nossos laços sociais. O comportamento narcisista, que é essencialmente uma busca exagerada por reconhecimento, faz parte de quem somos. Mas quando isso sai do controle, afetando negativamente nossas relações, é hora de agir.
É importante entender que um toque de narcisismo pode ser saudável para nosso desenvolvimento pessoal. Mas o segredo está em equilibrar isso para não esquecermos do outro. A tal moldura "Eu-Você" se torna crucial quando aplicada ao treinamento de valores, ajudando a construir interações mais saudáveis e empáticas (BARNES-HOLMES; BARNES-HOLMES & MCENTEGGART, 2023).
Sendo assim, a partir dessa proposta prática comportamental contextual, trabalhemos com a ficha de regulação emocional 18 (LINEHAN, 2018) que indica como os valores podem se desenvolver a partir das relações interpessoais. São 5 passos que podem fortalecer o nível de relação interpessoal a partir do autoconhecimento individual e coletivo. Se refere a como a pessoa se comporta com ela mesma e com os outros no contexto social (VENKATESH et al. 2023).
1 - Cuidar das relações (eu-você):
Reparar relacionamentos antigos (tentar) -> Ir em busca de novos relacionamentos (socializar, festas, encontros, etc) -> melhorar atuais relacionamentos (interações em cinema, bar, igreja, etc) -> terminar relacionamentos destrutivos (reconhecer relacionamentos tóxicos a partir de sensações emocionais e raciocínio lógico sobre a forma como o outro te trata).
2 - Fazer parte de um grupo (nós- vocês)
Ter relacionamentos próximos e gratificantes -> Ter um senso de pertencimento -> Receber afeição e amor -> envolver-se e ter intimidade com outras pessoas -> ter e manter amigos próximos -> ter uma família -> manter a proximidade e passar tempo, se possível, com familiares (aqui entra a regra A sobre terminar relacionamentos destrutivos, comum em relações familiares também).
3 - Trabalhar no autodesenvolvimento
Desenvolver uma filosofia pessoal de vida (pode estar associado as relações positivas estabelecidas com temas mais amplos, tais como política, pensamento moral, economia, cultura, meio ambiente, etc) -> aprender e fazer coisas desafiadoras -> crescer e amadurecer como ser humano a partir da influência de grupos macrossociais.
4 - Ter integridade
Reconhecer e defender crenças pessoais -> honestidade -> responsabilidade afetiva -> cumprir combinados -> corajoso em viver situações cotidianas com flexibilidade -> ser comprometido com seus ideais -> aceitar como você treinou existir e quem você exerce ser, atualmente.
5 - Ser autodirigido
Seguir as próprias escolhas com base em sua filosofia pessoal -> ponderar suas escolhas e ações com base no limite do outro -> ser criativo e inovador -> ser independente -> ser responsável por você e pelas pessoas que dependem de seu cuidado -> agir de acordo com seus próprios termos e prioridades.
Para tornar o treinamento de valores algo tangível e eficaz, podemos adotar práticas práticas no nosso dia a dia. A reflexão regular sobre nossos valores pessoais, aliada à prática deliberada da empatia, pode ser um ponto de partida crucial. Uma proposta concreta seria incorporar momentos específicos, como o "check-in empático", em que dedicamos tempo para compreender as perspectivas e sentimentos dos outros.
REFERÊNCIAS:
ARAUJO, Maria das Graças. Considerações sobre o narcisismo. Estud. psicanal., Belo Horizonte , n. 34, p. 79-82, dez. 2010 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372010000200011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 01 fev. 2024.
BARNES-HOLMES, D.; BARNES-HOLMES, Y. & MCENTEGGART, C., Aprendizagem, linguagem e comportamentos derivados. in HAYES, S. C.; HOFMANN, S. G. Para além do DSM. Trad. ROSA, S. M. M. 2023. SYNOPSYS.
KANTER, J. et al. Comportamentos clinicamente relevantes informados pela ciência do relacionamento na psicoterapia analítica funcional: o modelo consciência, coragem e amor. Tradução: Priscila R. Moura e Gabriela A. I. Martim. Revista Perspectivas, vol. 13, n. 2, p. 100-127, 2022.
LINEHAN, M. Treinamento de habilidades em DBT: Manual de terapia comportamental dialética para o Paciente. Artmed. 2018 2ed.
OSHIRO, C. K. B.; FERREIRA, T. A. S. Terapias contextuais comportamentais: análise funcional e prática clínica. Editora Manole, 2021. E-book. ISBN 9786555761870. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555761870/. Acesso em: 26 nov. 2022.
VANKATESH, S. M., at. al. Influências culturais e sociais na variação individual nos processos emocionais. In HAYES, S. C.; HOFMANN, S. G. Para além do DSM. Trad. ROSA, S. M. M. 2023. SYNOPSYS.
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