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  • Foto do escritorLucas Freitas

Senso de self na interação entre sujeitos virtuais

A linguagem, ou comunicação pode observada como a interação entre sujeitos ouvintes e falantes. Eles se comportam verbalmente, por meio da coordenação entre estímulos verbais para organizar a produção de sentido. (VALENTIM, 2022/PEREZ et al, 2013/SIDMAN, 1994). É o sentido que fornece relações mais complexas ao ponto de produzir o senso de self, ou seja, o sujeito que intitulado "eu", por meio deste, contextualiza o sentido de quem é, existe no espaço presente e age para manter e/ou modificar seu repertório. Ou seja, é o treino constante de relações entre estímulos verbais, que referenciam o "eu" no mundo sob e sobre a pele (FREITAS, FERRAZ, 2022).

 

Podemos relacionar o senso de self no contexto do "metaverso", por meio da comunicação verbal e não verbal. Esta é a ferramenta fundamental para a influência mútua entre os sujeitos que fornecem ,mutuamente, conteúdo para aprender a ser (FREITAS, FERRAZ, 2022). É a interação entre estímulos verbais que se combinam em significados compartilhados a partir da equivalência de estímulos (SIDMAN, 1994). Repertórios como autoconceito, autodefinição e desenvolvimento de self, se assemelham topograficamente, pois partem da relação entre estímulos que sinalizam a presença do "eu".


Para que João saiba que é João, ele treina uma relação entre "eu" e "outros". Desde o nascimento, João começa a desenvolver uma compreensão de si mesmo e de suas características individuais. Isso inclui aspectos físicos, emocionais e sociais. Esse é o sujeito contextual e funcional, ou seja, identifica as relações entre o comportamento e seu contexto, bem como as consequências que mantêm ou influenciam o comportamento ao longo do tempo.

 

E quem é esse sujeito no metaverso? Este é o sujeito virtual (DESIDÉRIO, 2011), quando descrevemos o discurso ou diálogo sobre a enunciação e fala sobre si mesmo em contexto virtual. Aqui, estamos falando sobre como João, voltando ao exemplo, desenvolve a noção de "eu"(SIMOES, 2021) o ou senso de self (HAYES, STROSAHL, WILSON, 2021)

 

Quando João está no ambiente virtual, como uma cidade virtual em um jogo, sua percepção e experiência são influenciadas. Conforme Banaco (2012), o sujeito é treinado para se observar a partir de suas interações passadas, narrativas culturais e atribuição de significado a eventos experienciados. A interação entre sujeitos virtuais pode ser mediada pela comunicação, que fornece modelo para que João, por exemplo, aprenda quem ele é virtualmente a partir da relação dele com outros sujeitos virtuais.

 

A comunicação, se refere à capacidade humana de usar símbolos, como palavras, imagens ou gestos, para representar ou significar algo além de si mesmos. (TORNEKE, 2010). Ao longo da vida, o sujeito é treinado a estabelecer quais símbolos o qualifica ou o descreve melhor, quais são os estímulos que são coerentes com a sua história de vida, dentre outros. Essa é a noção do “eu” ou seja, a relação de treino particularmente estabelecido para organizar as características que contextualizam, por exemplo, João. Esses padrões são observados pelo responder relacional arbitrariamente aplicado. (SIMOES. 2021).


Esse tipo de resposta é a habilidade de estabelecer relações arbitrárias entre estímulos, sem relação direta óbvia (HAYES, BARNES-HOLMES, ROCHE, 2001). Essas relações são formadas pela interação entre sujeitos, permitindo associações baseadas em características implicadas de forma simbólica e contextual, que formam molduras relacionais. Elas são o recorte simbólico que mantém um conceito relacionado a outro (PEREZ, et al 2013). Uma delas está associada ao senso de self e se nomeia como molduras dêiticas, isto é, envolve o treino espacial e temporal, como associações entre "aqui" e "agora", cujo significado depende do contexto em que são usadas.

 

Por exemplo, considere a palavra "aqui". Se alguém diz "o livro está aqui", o significado de "aqui" depende do local em que o falante está no momento da comunicação. Se o falante estiver em casa, "aqui" se refere à casa dele; se estiver em uma livraria, "aqui" se refere à livraria onde está. O mesmo princípio se aplica a outras palavras dêiticas como "ali", "agora", "então", etc.

 

O senso de self não apenas emerge na interação social, mas também desempenha um papel crucial na formação conceitos como a realidade, religião, valores, dentre outros (HAYES, STROSAHL, WILSON, 2021). São interações entrelaçadas, ou seja, diferentes variáveis que interagem e influenciam o comportamento verbal em um determinado contexto (BANACO, 2012).


O metaverso, se torna um espaço onde as identidades são moldadas e atualizadas constantemente por meio da interação verbal, refletindo uma construção contextualizada de quem somos e como nos relacionamos com o mundo virtual. Respostas a estímulos verbais são ferramentas fundamentais para a interação entre sujeitos virtuais que estão em coordenação com estímulos verbais que compartilham sentido.

 

No contexto analítico comportamental, essa definição sobre linguagem pode sugerir que as experiências virtuais são modeladas, ou moldadas. O modelamento, conforme Skinner (1953), se refere a reforçar seletivamente estímulos que se assemelham, de alguma forma, servindo como sustentação do comportamento final desejado.

 

À medida que o sujeito demonstra comportamentos mais próximos do alvo, o modelo é gradualmente associado em direção ao comportamento desejado (MOREIRA, MEDEIROS, 2007). Por meio modelamento associamos estímulos verbais que evocam sentido e aprendemos a se comunicar na coordenação entre eles, ou a equivalê-los (PEREZ et al 2013). A comunicação, conforme Hayes, Strosahal e Wilson (2021) possibilita a interação funcionalmente relacionada a estímulos verbais que formam conceitos ao longo do tempo e que podem definir ou mudar o sentido de quem o sujeito é e para onde ele vai.

 

As identidades digitais no metaverso podem ser vistas como construções complexas influenciadas por relações entre estímulos verbais. As pessoas desenvolvem e interagem virtualmente com base em suas experiências de vida e interações sociais anteriores. Por exemplo, um indivíduo pode adotar uma identidade mais confiante e assertiva em um ambiente virtual, refletindo ações que não emergiram no mundo real. Além disso, as relações de estímulos verbais também influenciam na forma como sujeito age virtualmente, a partir da manutenção de senso de self no metaverso.

 

A linguagem desempenha um papel central nas interações sociais que acontecem no metaverso. As pessoas se relacionam e interpretam o comportamento umas das outras. Podemos examinar como as relações entre estímulos verbais influenciam a percepção e a resposta no ambiente virtual. Isso inclui a interpretação de sinais sociais, como linguagem corporal virtual, emojis e até mesmo o tom de voz em chats de voz. A linguagem influencia a formação de grupos e comunidades no metaverso, onde as pessoas se reúnem com base em interesses comuns e narrativas compartilhadas, criando assim laços sociais e conexões significativas.

 

Por exemplo, a presença de certos objetos ou ambientes virtuais pode evocar memórias ou emoções específicas com base em relações de estímulos verbais prévias. Além disso, a linguagem também desempenha um papel na criação de narrativas e histórias dentro do metaverso, que podem aumentar a imersão e a sensação de presença para os sujeitos virtuais. Ao entender esses processos, os designers e criadores de conteúdo podem criar experiências mais envolventes e significativas para os usuários do metaverso.




REFERÊNCIAS

 

BANACO et al. Personalidade. In: HÜBNER, M. M.; MOREIRA, M. B. (Orgs.). Temas da psicologia sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

 

BEZERRA JR, A. G., OLIVEIRA, F. A. D., & CONCEIÇÃO, S. A. H. (2023). THE "METAVERSE" PHENOMENON AND ITS IMPLICATIONS ON EDUCATION: A SYSTEMATIC LITERATURE REVIEW AND DOCUMENTAL ANALYSIS. In SciELO Preprints. https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.5991

 

DESIDÉRIO, P. M. M. O Sujeito Virtual nas Mídias Sociais: contribuições da análise do discurso para compreensão dos Fakes. Revista Mosaico - Revista de História, Goiânia, Brasil, v. 6, n. 1, p. 121–130, 2013. DOI: 10.18224/mos.v6i1.2752. Disponível em: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/mosaico/article/view/2752. Acesso em: 18 fev. 2024.

 

FREITAS, L. P. P.; FERRAZ, T. C. P. O sobressair do Self-como-contexto na Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Cadernos de Psicologia. ISSN 2674-9483, 2022. p. 462-489.

 

HAYES, S. C.; BARNES-HOLMES, D.; ROCHE, B. Relational   frame   theory:   A   Post- Skinnerian account of human language and cognition. New York: Plenum Press, 2001.

 

 

HAYES, S. C.; STROSAHL, K. D.; WILSON, K. G. Terapia de aceitação e compromisso: o processo e a prática da mudança consciente. Tradução: Sandra M. M. da Rosa. 2.ed. - Artmed: Porto Alegre, 2021.

 

HAYES, S. C. Entendendo a espiritualidade. Behaviorism. 12. 99-110, 1984 traduzido em português por Raul Vaz Manzione. Perspectivas. v.10 n. 02. p. 191-202, 2019. Disponível em: <https://www.revistaperspectivas.org/perspectivas/article/view/623> Acesso em 15 maio 2022.

 

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, A. M. Princípios básicos da análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.

 

PEREZ, William F. et al =. Introdução à Teoria das Molduras Relacionais (Relational Frame Theory): principais conceitos, achados experimentais e possibilidades de aplicação. Perspectivas, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 33-51, 2013.   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-35482013000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 07 nov.  2021.

 

SANTOS, G. A REEXISTÊNCIA NO PÓS-PANDEMIA: CONSIDERAÇÕES DISCURSIVAS CRÍTICAS SOBRE CIDADANIA E TECNOLOGIA A PARTIR DAS REDES PRAGMÁTICAS. Ilha do Desterro, v. 75, n. 3, p. 165–185, set. 2022.

SIDMAN, M. Equivalence relations and behavior: A research story. Boston: Authors Cooperative, 1994.

 

SIMOES, A. S. Teoria das molduras relacionais: Análise funcional para formulação de caso clínico. In OSHIRO, C. K. B.; FERREIRA, T. A. S. Terapias contextuais comportamentais: análise funcional e prática clínica. Editora Manole, 2021. E-book. ISBN 9786555761870. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555761870/. Acesso em: 26 nov. 2022.

 

SKINNER, B. F. Science and human behavior. New York: Free Press, 1953.

 

TÖRNEKE, N. Learning RFT: na introduction to Relational Frame Theory and its clincal application. Oakland: New Hardinger Publications Inc. 2010.

 

VALENTIM, M.; O modelo filosófico das terapias comportamentais contextuais. Palestra apresentada no II Encontro de Terapia Cognitivo Comportamental do Uniacademia, em Juiz de Fora, 19 mar. 2022.

 

VANKATESH, S. M., at. al. Influências culturais e sociais na variação individual nos processos emocionais. In HAYES, S. C.; HOFMANN, S. G. Para além do DSM. Trad. ROSA, S. M. M. 2023. SYNOPSYS.

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